Texto originalmente produzido por Tales Gubes para o Medium
Ser voluntário do CreativeMornings às vezes é uma aventura emocionante. A minha participação é marginal — eu estou presente nos encontros, onde recepciono e conecto pessoas que ainda não se conhecem, e escrevo um registro narrativo sobre o evento. Ainda assim, a cada mês, o CreativeMornings possibilita uma miríade de experiências que podem facilmente flertar com a ansiedade, o tema do mês.
O CreativeMornings é um café da manhã com palestra que acontece em 180 cidades ao redor do mundo. Uma sexta-feira por mês, cada cidade sedia esse encontro gratuito e feito apenas por voluntários a partir de um tema para conectar a comunidade criativa local. Em janeiro, o tema foi ansiedade e para falar a respeito, chamamos Moira Malzoni, fundadora do estúdio de meditação Moved by Mindfulness.
Colocado assim, parece que foi simples e fácil preparar o encontro, quando na verdade ansiedade foi uma emoção presente até a semana do evento. Diferente do que costuma acontecer, somente na segunda-feira conseguimos confirmar a palestrante e preparar as inscrições para serem abertas. O resultado? Entre inscritos e lista de espera, mais de 240 pessoas se interessaram em comparecer ao CreativeMornings para ouvir a Moira falar sobre mindfulness.
A palestra da Moira começou com um minuto de meditação: olhos fechados, postura ereta, posição confortável. O agito do encontro acalmou e nós pudemos enfim nos conectar com o momento de forma mais presente e intencional.
Em português, costuma ser traduzido como atenção plena ou consciência plena. O Mindfulness é uma releitura de práticas religiosas, mas livre de seus dogmas e crenças, oferecendo protocolos que podem ser seguidos por qualquer pessoa. Uma meditação e também um estado da mente, o mindfulness é uma forma de praticar mais presença em relação ao que está acontecendo no agora e de sair do automático. Essa presença vem acompanhada de uma atitude de abertura, curiosidade e não julgamento.
Tudo no mindfulness é muito simples, mas isso não quer dizer que seja fácil. Praticar essa abertura curiosa e livre de julgamento é uma prática que exige atenção contínua às armadilhas que nossa própria mente prega sobre nós mesmos. Afinal, nossa cabeça não para nunca — e meditação não tem a ver com parar de pensar.
Moira apresentou um exercício prático para a vivência do mindfulness. Trata-se do acrônimo RAIN: Reconhecer, Aceitar, Investigar e Não identificar.
Quando somos invadidos por emoções, é necessário reconhecer que elas existem e que estão nos influenciando. As emoções são sempre verdadeiras, elas não mentem. O que pode ser enganoso é nossa reação ou explicação para elas, mas não elas em si.
Após reconhecer a emoção, é hora de aceitar sua existência. Essa é provavelmente a etapa mais difícil do exercício e, também, a mais transformadora. Entender que uma emoção está em nós e que, apesar disso, está tudo bem, é uma prática libertadora.
A etapa de investigar a emoção não diz respeito a analisar nossa reação mental, mas sim a procurar no corpo as sensações físicas que manifestam essa emoção. Essa etapa procura corporificar as emoções, estabelecendo fatos que possam ser observados e descritos.
Por fim, a etapa final do exercício é a de não identificar. Isso implica em compreender que emoções são energia em movimento, elas passam por nós, mas nós não somos o que sentimos. Em vez de ser raivoso ou ser triste, estar com raiva ou estar triste. Este deslocamento do ser para o estar facilita o processo de descolar-se de conceitos fixados e cristalizados.
Para a prática do mindfulness, a autocompaixão é o ingrediente principal, pois nos lembra que, apesar de tudo, está tudo bem. Raiva, tristeza, excitação, tudo isso é passageiro.
O mesmo que vale para as emoções é também verdadeiro sobre nossos pensamentos. Eles não são uma representação fiel da realidade. Com frequência, nossos pensamentos estão agarrados ao passado ou ao futuro, em vez de estarem conectados com o que está acontecendo no presente.
O mindfulness é um recurso para trazer de volta a atenção para o presente. Aliado à autocompaixão, é uma ferramenta poderosa para produzir uma vida mais conectada e consciente. E nas vezes em que nos percebermos escapando para o passado ou para o futuro, ou ainda perdendo a atenção ao presente? Está tudo bem: basta gentilmente voltar ao presente e se reconectar. Com o tempo e a prática, esse exercício vai se tornando cada vez mais fácil — mas nunca automático.